
O
1º DE MAIO NA MINHA ALDEIA - «JOGAR» AO MAIO*
*« Jogar» ao
Maio é uma tradição anual ainda hoje praticada, apenas por jovens rapazes, na
aldeia de Casal da Quinta – Milagres –Leiria, na noite de 30 de Abril para 1 de
Maio. O resultado desta tradição (a
«exposição efémera» de objectos «roubados») só pode ser observada na madrugada
e manhã do primeiro dia de Maio.
Na
aldeia de Casal da Quinta, ainda
hoje a tradição se cumpre na noite do 1º de Maio.
No passado, não muito
distante, era costume, nessa noite, as pessoas colocarem flores e troncos de
árvores nas portas dos vizinhos e nas terras cultivadas. Muitas vezes o tronco
impedia a abertura das portas o que tornava a tradição numa brincadeira entre
vizinhos!
Nesta noite,
grupos de rapazes (e só mesmo rapazes solteiros!), percorrendo as ruas da
aldeia, fazem o divertido «ROUBO» de todas as alfaias agrícolas e outros objetos
ligados à agricultura que conseguem encontrar. São os carros das vacas,
charruas, cangas das vacas, escadas, poceiros, foices e tudo mais que esteja à
mão de semear! Tentam fazer tudo às escondidas, de modo a não serem descobertos
pelas pessoas que irão «atacar»; as pessoas mais velhas e descuidadas, as que
deixam nas eiras e barracões as alfaias e outros instrumentos ligados à
agricultura.
Na véspera, os mais velhos tinham
a preocupação de guardarem em local seguro os seus haveres, para que estes não fossem
levados pela rapaziada. Muitas vezes ficavam de guarda toda a noite e chegavam
mesmo a prender os cães junto das suas
coisas, para que eles pudessem acusar a
presença da malta.
Este jogo do esconde-esconde e
esta «luta» entre novos e velhos prolonga-se pela noite fora e os rapazes não
sossegam enquanto não conseguem «ROUBAR» algo aqueles que mais teimam em
resistir!
Os objetos «ROUBADOS» eram
depois levados pelos grupos de rapazes para sítios estratégicos, cruzamentos,
adro da capela e, mais recentemente para junto do clube recreativo, e aí eram
colocados de uma forma confusa mas
organizada, numa exposição efémera e muito rápida que só podia ser vista na
madrugada desse dia.
Entretanto, os rapazes, depois
do serviço feito e lá pela madrugada, desapareciam, indo descansar após o
«trabalho» realizado!
Logo ao nascer do sol, os mais
curiosos e as crianças principalmente, saltavam da cama e corriam a observar a
«Exposição dos objetos roubados» e ver a cara bem disposta ou chateada das
vitimas do «roubo» noturno.
Estas verificam, no local da exposição, o que lhes havia
sido levado e apressavam-se a ir procurar e buscar as suas coisas antes que
elas fossem roubadas a sério! Além disso, as alfaias em exposição, muitas
vezes, são necessárias para o trabalho agrícola e doméstico desse dia.
À hora do almoço já pouco ou
nada restava daquela exposição que fazia rir os madrugadores e que muitas vezes
«chateava» as vitimas que depois eram alvo de gozo por parte de todos.
Esta tradição
fazia com que a noite do 1º de Maio fosse mal dormida; os rapazes porque se
divertiam nesta luta com os mais velhos e porque tinham o trabalho de «roubar»
e de montar a «Exposição», o que era bem divertido; os mais velhos porque tentavam,
durante quase toda a noite, proteger o que era seu e porque não conseguiam
dormir com o barulho provocado pelos carros de vacas, pipas e limpadores de
cereais a rodarem pelas ruas fora; e
muitas das crianças também dormiam pouco porque estavam curiosas de ver o
resultado da brincadeira.
Talvez toda esta tradição fosse uma forma inteligente de
obrigar todas as pessoas da aldeia a saírem da cama bem cedo. É que, segundo
dizia o ditado popular, «Quem ficar com o Maio no cú, ficará com sono o ano
inteiro», ou seja, quem se levantar tarde no 1º dia de Maio será preguiçoso
todo o ano.
Sem
se aperceberem, os que participam nesta tradição estão a participar num culto
agrário que se baseia na «Luta» entre a morte e a vida, entre o bem e o mal e
entre o adormecimento do Inverno e o despertar da Primavera.
Com o progresso,
a agricultura na aldeia está a deixar de ser praticada. Não falta muito para
que os objetos e as alfaias agrícolas sejam desnecessários e deixados ao
abandono.
Será que quando
isso acontecer jogar ao MAIO terá algum significado? Será que os jovens irão recorrer a outros objetos? Será que tudo
irá ficar no esquecimento?
O futuro o dirá...
Campos floridos na Ribeira- Casal da Quinta |
QUE
A TRADIÇÃO CONTINUE A SER O QUE É, JÁ QUE NÃO É O QUE ERA!
.................. 1º DE MAIO ..........................
O 1º
de Maio não é só o 1º dia do 5º mês, segundo o calendário gregoriano.
O 1º de Maio não é só o dia da festa
internacional do trabalho, instaurada em 1889 para recordar cinco dirigentes operários
de Chicago (E.U.A) que foram executados em 1887 por terem organizado uma greve
geral em 1886.
O 1º de Maio é também um dia, festejado
desde a antiguidade, numa festa chamada MAIO ou MAIAS que celebra a renovação
da natureza e o esplendor da Primavera.
Pensa-se que a origem das consagrações
florais do 1º de Maio tem uma forte ligação com as festas públicas romanas das
«Florálias», festas dedicadas à Deusa Flora (Deusa da floração da primavera,
dos cereais, das árvores e das flores) e onde se celebrava o renascer da vida
na Primavera.
Ainda hoje é tradição em
muitos pontos do nosso País colocar ramos de flores (algumas são mesmo as Maias
ou Madresilvas) às portas das casas dos vizinhos e até mesmo nos campos e nas
terras cultivadas.
Existem ainda muitas outras
tradições e cultos agrários relacionados com flores, com a Primavera e com o
renascimento da Natureza.
Na demonologia medieval germânica, a noite
do 1º de Maio corresponde a noite de valpurgis- noite povoada de bruxas que
andavam pelo ar e praticavam obras infernais, uma herança na crença pagã nos
espíritos nocivos do inverno e da morte. Devido à sua existência, tornava-se
necessário purificar ritualmente a terra, no início do ano agrário – na
primavera- daí as inúmeras manifestações e cultos ainda realizados em muitos
países do mundo.