Contou-me a minha tia Maria e também outras gentes mais velhas e sábias da minha aldeia que, em certo dia do ano, o diabo andava às soltas pelo mundo.
Esse dia era 24 de agosto - Dia de S. Bartolomeu!
Diziam-me elas, muito assustadas e receosas que, nesta data, o diabo andava, preso apenas por uma linha, a percorrer o mundo.
E mais… Durante uma hora
e apenas uma única hora, não se sabia qual, e num sitio qualquer do mundo
também ele desconhecido, o diabo iria soltar-se e provocar acidentes, desgraças
e todos os tipos de males a quem estivesse desatento e desprevenido.
Outra lenda diz que:
São Bartolomeu traz consigo o diabo preso a uma corrente que, durante o resto do ano, apresenta a forma de um cão preso na sua trela. Mas no dia 24 de agosto solta-o e ele figura-se de diabo que anda pelo mundo às soltas.
S. Bartolomeu nas suas andanças pelo mundo, retirou o diabo
do corpo de um jovem doente, e depois aprisionou-o com uma corrente para que ele não fugisse e não
fizesse mais estragos.
Por isso, e andando o diabo à solta, todo o cuidado é pouco e o pior pode acontecer acontecer.
Poderá instalar-se a desordem e o caos, podem acontecer fenómenos invulgares, o tempo pode trazer chuvas, trovoadas e ventanias e até o mar se pode alterar.
As contadoras desta história não sabiam mas este medo ou o mito, de que o diabo anda à solta e de que acontecesse algo de mal neste dia de agosto, poderá ter tido origem em França, com o massacre da noite de São Bartolomeu.
De facto, a matança daquela noite só podia ter sido obra do diabo, mas do "diabo humano".
Este foi um episódio muito sangrento na proibição dos protestantes em França pelos reis franceses, católicos. As matanças, organizadas pela casa real francesa, começaram a 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 70.000 e 100.000 protestantes franceses (chamados huguenotes).
Nas primeiras horas da madrugada de 24 de Agosto, o dia de São Bartolomeu, dezenas de líderes protestantes foram assassinados em Paris, numa série coordenada de ataques planeados pela família real. Relatos da altura dão conta que eram tantos os cadáveres nos rios, que estes ficaram vermelhos e que, durante meses, ninguém comeu peixe.
Relatos diziam que o Papa Gregório XIII ficou muito feliz com a notícia deste massacre que mandou os sinos de Roma ressoaram para um dia. Mandou ainda cunhar uma medalha comemorativa em honra da ocasião e encarregou um pintor de fazer uma pintura de um mural celebrando o massacre.
O medo foi tanto que a imaginação popular lhe deu uma imagem
diabólica!
Para saber mais:
Romaria de São Bartolomeu do Mar Esposende (Minho)
Todos os anos, no dia 24 de Agosto, realiza-se a Romaria de São Bartolomeu do Mar, padroeiro da freguesia com o mesmo nome, pertencente ao concelho de Esposende (Minho), durante a qual as crianças são levadas a mergulhar, pelo menos três vezes, na água fria do mar. Para que fiquem livres de muitos males.
chttps://folclore.pt/romaria-de-s-bartolomeu-do-mar-esposende/
e
https://sabedoriapopular.blogs.sapo.pt/12734.html